A minha vida é um The Office

Reirazinho
3 min readJan 7, 2025

--

Ontem me disseram como é ruim a sensação de contar uma piada e ninguém rir. Aqueles poucos segundos de silêncio constrangedor, mas que parecem durar horas. Eu não acho ruim. Na realidade, há uma sutil poesia nisso. Com certa frequência, não sei o que dá em mim, mas perpetuo esta sensação constrangedora, como se quisesse extrair o lado inocente da socialização. Não vejo mais do que crianças que, sem saber como reagir diante de posturas adultas, paralisam. O medo de desagradar o emissor da piada é o fator primordial que preenche o coração das pessoas, afinal, por que criticar alguém que está tentando apenas nos alegrar?

Há poesia no constrangimento, porque um simples gesto pode carregar nuances: a piada foi ruim? Ofendeu quem ouviu? Ela entendeu? Teve graça? É semelhante à paixão avassaladora da adolescência, em que a troca de olhares rápida nem sempre é entendida objetivamente. Às vezes um olhar só é um olhar…

Impossível olhar com destreza o constrangimento e não se divertir. Quem de nós nunca passou por tal peripécia sem que o sentimento arrebatador de desonestidade viesse nos cobrir? Desonestidade, sim! Não achamos graça de certas piadas (ou trocadilhos) e aquele sorriso solar que até arde a mandíbula nos cansa.

As convenções sociais são engraçadas por si só: “não pode fazer isso, não pode fazer aquilo”, “vamos agir assim para o bem de todos”, e chega na hora, é sempre esse o resultado — o frio na espinha nos deixando imóveis no desconforto; o cérebro suspenso, sem saber o que fazer; e, como sempre, o riso doído que necessita de um leve esforço da laringe para acobertar o crime da desonestidade.

Esses dias o Cláudio, vizinho aqui do apartamento, soltou uma brilhante anedota quando eu estava subindo as escadas. Eu estava no mercado, voltei amarrotado, com sacolinhas quase estourando. Isso, por si só, já denota a minha paciência indo para o saco (ou melhor, sacolinha). Cumprimentou-me e mantemos a etiqueta básica da típica conversa vazia sem propósito. Eu como introvertido, mas também curioso, gosto de ouvir as pessoas, apesar de me chatear em respondê-las. Ele percebeu minha cara de tacho e pensou que seria uma boa ideia quebrar o gelo.

Mais ou menos como piadinhas do nível Costinha: “Matheus, você sabe por que bombeiros não conseguem andar?”, com meu entusiasmo cadavérico digo que não sei e ele responde: “é porque “só-correm”. Começou a rir, o que aliás, é uma risada escandalosa. Mascarei a honestidade com aquele sorriso fechado, tímido e forçado. Lançou outras duas melhorzinhas, mas ainda sim ruins. O pior não foi isso, foi porque não ri de verdade e tive que acompanhá-lo, pois ele também estava chegando em casa. Então, o ermo silêncio das frias escadas também nos acompanhou. Ele deve ter percebido que eu não estava lá bem-humorado, eu estava preocupado em o que dizer enquanto subíamos as escadas.

Adentro a casa, pensei demasiadamente. Concluí que ser criança (como somos), mas rir, é a melhor solução.

--

--

Reirazinho
Reirazinho

Written by Reirazinho

Sou feito de palavras não ditas e de melancólicas emoções. Escrevo o meu mundo com poesias e prosas.

No responses yet