Aleteia
Vã verdade apetece-me,
palpita com sede o vinho,
deságua a mentira inebrie
com a doçura do amor tinto.
Procuro-te com a polidez,
a retumbância de um diamante
escondida dos olhos e da surdez,
ouço-te na penumbra sensatez.
Sem vós nada queremos.
Se morta estiveres, findaremos.
Enterremos e lamentemos,
e as verdades, mentiremos.
Estive procurando, quando pensei em achar,
novamente me enganei.
Sobre o véu da ilusão lá, escondida, está.
Vedas, ascetas e irmãos todos contigo e com
Allah.
A Verdade é sagrada e a mentira é
tramada.
A humanidade sempre lutou por ela,
mesmo falhando miseravelmente.
No cálice ela bebeu sangue.
Sangue esse derramado por sacrifícios
ou cruzes quebradas;
violência e ódio nos anais da raça humana.
Desde Homero a Fernando Pessoa
a poesia metrificou-se em dor;
talvez o melhor soneto seja a morte,
a mais presente das deusas poéticas.
Enquanto a Verdade ser um instrumento,
nossa espécie não evoluirá.
A seleção será parcial e não mais natural.
Darwin e Camões erraram:
se somos amores ardendo sem se ver,
nossos instintos cristalizaram
o mal a prevalecer.