Apego
Ah, o apego, a fonte de todas as bonanças da vida, o gozo da alma sossegada nas tardes calmas. Mas, na raiz de seus poros, mora o seu algoz, aquilo que conhecemos no sangue: o sofrimento. Haveria de ser diferente? Como não se apegar às pessoas? Como não dar a vida à quem nos ama? Alguém deveria nos ensinar o desapego. Dar aos discípulos aulas de como não viver o espírito humano.
Sinto por todos os cantos as lágrimas banharem minha pele. Oh, sofrimento! Por que me castigas assim? É tanta dor que já não avisto propósito. Cada vez mais solitário num vale de lágrimas sombrio. Tenho cicatrizes por dentro de mim, as marcas de anos com o peito calado. Agora, o meu coração berra, sufoca e dói quando choro. Ninguém pode ver quando os açoites de dentro assolam emoções quietas.
Nunca estive tão magoado comigo mesmo. Olhei as pessoas que mais sou apegado partirem. Vi a ruína da minha mãe nos meus olhos sem vida. Passei uma madrugada rezando ao vento por um instante de misericórdia. Olhei o amor da minha vida ir embora sem um único beijo para confortá-la. Desejei que fosse um pesadelo, e ela estivesse do meu lado passando o cansaço das horas nos meus braços. Quando acordei, novamente chorei e aceitei o fardo de viver.Pergunto-me a ninguém se pago com dor por algo que fiz. Sem respostas, durmo assim tão triste, assim tão frio. Segue a minha dolorosa rotina e assim passa o dia.