As Víboras
Rastejo em sonolência com o abismo
Naufragando na cauda da serpente,
A vida sinto a traíra inconsciente
Dormir o meu veneno de cinismo.
Sofri nas regras do acaso das cobras,
Fui ingênuo por duas décadas inteiras,
Talvez se a misantropia fosse as veias
Eu jovem não seria alvo dessas obras.
Sufocado no invólucro tão cru
Embebedei-me o amor e a falsidade,
O chocalho na ponta, a triste arte,
Trágica e solitária, dormi nu.
O cético descanso e as minúsculas
Inócuas e inúteis questões d’alma,
Abocam na garganta desta palma
O aperto que de dentro, suga as súplicas.
A minha introversão vai numa queda!
Sozinho nesta selva de sonâmbulo
A insônia, pesadelo desse preâmbulo,
Introduz a pele morta que me cerca.