As Víboras

Reirazinho
Apr 28, 2024
art: Tamed (circa 1910), by Marian Wawrzeniecki (1863–1943)

Rastejo em sonolência com o abismo
Naufragando na cauda da serpente,
A vida sinto a traíra inconsciente
Dormir o meu veneno de cinismo.

Sofri nas regras do acaso das cobras,
Fui ingênuo por duas décadas inteiras,
Talvez se a misantropia fosse as veias
Eu jovem não seria alvo dessas obras.

Sufocado no invólucro tão cru
Embebedei-me o amor e a falsidade,
O chocalho na ponta, a triste arte,
Trágica e solitária, dormi nu.

O cético descanso e as minúsculas
Inócuas e inúteis questões d’alma,
Abocam na garganta desta palma
O aperto que de dentro, suga as súplicas.

A minha introversão vai numa queda!
Sozinho nesta selva de sonâmbulo
A insônia, pesadelo desse preâmbulo,
Introduz a pele morta que me cerca.

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Reirazinho

Sou feito de palavras não ditas e de melancólicas emoções. Contemplo o mundo escrevendo poesias, prosas, contos, ensaios e crônicas.