Carta ao arrependimento

Reirazinho
2 min readSep 4, 2024

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art: The Fall of Icarus (1692), by Johann Caspar Hessius (Swiss, 17th century)

Por um lastro de misericórdia
Perdoa o lustre da balbúrdia,
Luzia a dança das confusões
Azaradas no coração ansioso,
Obscuro como os antigos toques
De seus beijos!

Meu amor, por que me enganas?
Nossa cria vaga na fantasmagoria
Dum relacionamento sem corpo,
Porque o corpo do pai
Esculpido em desilusões
Apedrejado foi pelo sofrimento.

Apesar de mármore…
Apesar de tácito e tenaz mármore
Cai o pai nos invólucros do inferno.
A mão chorada naquele deslize de rendição;
Um pai sem a guarda do filho,
Um filho sem a asa do pai.

Sim, a consciência grita comigo!
Sei que fatalmente errei.
Um deslize, um apetite, uma parvoíce.
Traí o lírio como me sinto traído pela vida,
Vitimista? Jamais fui!
Eu sou um mero alguém-porcaria!

Um amontoado de órgãos confusos,
Emoções sob o signo da loucura,
Sensível cérebro de intenções confusas.
Apesar de mim, eu te amei! Não acredita?
Das ligações virtuais de conexões únicas,
Ou então no beijo roubado na frente de sua casa?

Desculpa, mas fui doutrinado no abandono!
Caí antes da fatalista queda de asas
Na minha libido contornada em Ícaro
Amoroso, apagado pelo meu pecado de fogo.
Resta cinza com sabor de passado,
Ah! E quem me dera voar até você…

Encontro meu corpo fraco na sarjeta
Composto de sal e álcool.
Vomito a alma ardente na treva madrugada,
Nada seria de mim sem a malandra gorjeta
Saboreada por esta bela mulher
De curvas chamativas que me incendeia.

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Reirazinho
Reirazinho

Written by Reirazinho

Sou feito de palavras não ditas e de melancólicas emoções. Escrevo o meu mundo com poesias e prosas.

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