Estranho no ninho
Estava quentinho minhas asas juvenis, mas de repente tudo mudou. De um clima aconchegante, minha trajetória exaspera chegou. Fui gerado no lenço do afago matrimonial; vinculado a vida e a sorte da mesma. Acordei zonzo, cambaleando nas nuvens tão fofas, mas sentia esporadicamente, o tempo mudando, as nuvens escurecendo como se o caos profanasse. É o que chamo consciência, a ideia da senciência de si. Foi interessante, no início. A descoberta, os desejos e vocações. Mas certo dia, um raio clareou toda a ótica da vida. Senti-me experimentando o divino, mas na complacência da matéria: o propósito. Foi aí onde o primeiro espinho perfurou minhas mãos, os parágrafos sangrando a minha dor. Era isso, pensei, devo como sangria, lançar sobre às folhas as linhas de uma tempestade vermelha. O motivo do meu voo é escrever.
Uma lágrima caiu do céu, depois outras e outras, era a chuva da dúvida. Fiquei com medo e me escondi sob um tronco. Refleti muito enquanto isso; ‘’Será isso mesmo?’’ ‘’E se não der?’’, várias incógnitas pela mente. Passaram-se horas, saí e fui a caminho de casa. Contemplei lentamente a floresta. Estava frio, ainda mais com a ventania brusca que houvera. Observei uma pétala, ela estava a minha altura, mas distante. Tão perfeita e longe de mim; foi então que entendi. Tinha senciência que aquela pétala era como meu propósito: ventosa e semota. Meu sonho é tão onírico quanto a esperança que tenho dele. O ninho onde cheguei de quente e confortável, foi para gélido e incômodo.
Eis o livro do pássaro perdido.