Maria e Matheus

Reirazinho
1 min readOct 2, 2024

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art: The Trysting Place (1901), by Edmund Blair Leighton (1853–1922)

A Maria que das Dores é tão meiga
Carrega o sobrenome de amargura,
A impotência duma forma de teia
Coroada pelos nós duma ternura.

Maria salva alguns pobres da rua,
Oferta a caridade amando a graça,
Paga o ouro do cadáver e de sua
Penitência passada que lhe abraça.

As costas pesam pedras deslizantes,
Dorme com crucifixos e a fé tenra,
Maria tem sobre os olhos tão marcantes
A natureza, a relva sacra, a terra.

O contrário, Matheus apalpa a vida
Com o seu coração tão aventureiro,
Ele mastiga o fruto da comida
Que os tristonhos vomitam por inteiro.

Otimista e a pureza tão invejável
Atraem o olho inferior ao seu rosto,
Aqueles que se coçam com o amável
Jovem de rosto lindo e tão jocoso.

O sorriso é a sua fé que fisga o anzol:
Num calmo e envolto mar de novos peixes,
Matheus é salvação, a luz, o farol,
Presença desaguada em raios e feixes.

O dualismo é troféu de toda antítese:

Maria sofre com Dores já perpétuas,
Matheus apenas traz felicidade,
Maria apenas trouxe amor às pétalas,
Matheus alegrou o amor da mocidade.

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Written by Reirazinho

Sou feito de palavras não ditas e de melancólicas emoções. Escrevo o meu mundo com poesias e prosas.

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