Marés Mortuárias
Dec 29, 2024
Coveiro enterra a morte e a dor do mar,
É nau fantasma negra com o véu,
E donde à cova puxa o claro altar
Que casa à noite triste em nosso céu.
Trabalho ruim que nos verá passar
Pendido o pé colado, frio e cruel
No pó tão frágil, seco, como estar
Suspensa a vida, amar o nada ao léu…
Se cri e vi a onda calma ser tormenta,
O mal da vida foi meu lado mórbido:
O crânio duro e calmo sinto à venta…
Cheiroso como rosa-morta, é sórdido
Meu lado humano que o cadáver pensa:
“Coveiro poeta que vê e nos lamenta!”