Memórias
No meu diário habitam com ossadas
Pétalas de paixões de nostalgia,
Nelas, as minhas covas mal-amadas,
Escreveram este homem do meio-dia.
No cintilar noturno da meia-noite
O meu amargor vomita sua memória;
— Oh, que lástima amar e ter o açoite
Da solidão, essa trágica história!
Vi o azul feito de trevas neste céu:
Que neblina, que desgraça existir!
São como rouxinóis que vi partir
Dos meus dedos… sem teu nome no anel.
Posso sentir teu beijo desenhar
Entre o lábio fantasma a eternidade;
Sóis e Luas afogados no teu mar
Em língua, que afoguei em larga saudade…
Nas lembranças também sinto m’nha morte,
Fagulhas das tuas lâminas vocálicas:
Palavras esquartejam com melódicas
Sílabas o desejo do mais forte…
Bela donzela morta que o véu é sombra,
Uma elegia tão mórbida a sós:
— O passado escorre, ruge e ronca
No gutural do amor sem a tua voz…