Metáfora Morta
A minha sina é analisar o todo com a imprecisão dos símbolos. O meu mundo é uma névoa. O simbólico como núcleo de produção de sentido atravessou minha alma, e a flecha de Eros definhou. Apenas enxergo os objetos e os sujeitos no reflexo das inconsciências. Não vejo a pipa cortando a brisa mágica do céu, enxergo o pipeiro como ser angélico que — incapaz de erguer voo ao horizonte — tem o simulacro falho de sua impotência.
Escrevo, não para um fim, mas para investigar as contradições e os mármores do coração. Será que somos capazes de entender a nossa sombra? O problema do limiar entre o autoconhecimento e a escrita é que o portal do conhecer é estreito. As palavras apertadas são fugazes.
Já não sou capaz de apontar se me conheci mais ou se conheci menos. Sinto que petrifiquei tudo o que poderia, principalmente as emoções. Afirmo, mas sem convicção, que a minha psique foi sepultada por tantos devaneios. O inconsciente não deixa pistas da minha identidade.
A sobriedade da consciência é misteriosa, como as marés reprimidas da minha libido. O amor é uma incógnita passiva de olhos que, exaustos de avistarem incertezas, tornaram-se cegos. Amo (desapaixonado) as experiências, porém o instinto melancólico prepondera todas elas.
Os passos velozes que as ruas de São Paulo sentem não são os mesmos passos que sinto. A letargia que meu espírito sente exaure-se na desarmonia das buzinas. Os carros cavalgam na meditação cinzenta, o que não apenas me irrita, mas me entristece como nenhum outro vazio. Desejo a imortalidade para conhecer o tempo. Nesta carne magra que vagueia em ruas assincrônicas, ando triste: com vida, mas morto. Só poderia ser perfeito se transcendesse a melodia efêmera da morte.
As metáforas estão esgotadas. O lado místico perdeu-se. Pereço na deidade de meu próprio rito.