Natureza morta

Reirazinho
Oct 31, 2023

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art: An Erratic Rock In The Rapids (1830), by Martinus Rørbye (1803–1848)

Sobe o frescor mágico destas
pétalas de magnólias imaginárias,
são desejos não concretos,
desejos que cheiram o coração
atônito de sonhos da vida,

mundos de amores sólidos
erguidos em mármores titânicos,
uma leveza na transparência do céu
quanto o peso de amar sem fim.

Imaginar é pior do que ter,
porque a carcaça do real é finita:
os órgãos dos sentidos se esgotam,
as mãos da empatia se encardem
nas aspirações dos enterros,
o fracasso beija-nos à força,
as dores são insuportáveis.

A imaginação é o protesto das coisas.
Damos vida à natureza morta,
somos deuses sem poderes:
uma pedra é imutável e característica,
particularidades contidas a vácuo,
e portanto, damos consciência à ela
do seu peso em não pensar.

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Reirazinho
Reirazinho

Written by Reirazinho

Sou feito de palavras não ditas e de melancólicas emoções. Escrevo o meu mundo com poesias e prosas.

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