Nova Dialética
Um solilóquio imaginado entre mim e o sem-teto coloca-me sentenciado e, com razão, a um estado ilusório de superioridade. É com veemência que minha alma sugere o realismo metafísico. Este realismo completa a própria realidade, enquanto contempla e supera ilusões débeis como esta. Temos uma sensação social que cria aristocracias cheias de ilusões. Entre mim e o sem-teto, estamos distantes apenas em corpos, porque somos idênticos em essência. Ele me enxerga como recanto de pedições. Vejo-o como o contraste do ideal. Tenho a máxima empatia por ele; não busco — como o nosso véu social — a inverdade do ser — mas a identificação por excelência. Ainda que eu esteja distante de seu corpo, assumo a ignorância primordial: escrevendo-o sem tatear sua voz, liricamente assassino qualquer coisa que não a especulação. Ele me olhou por alguns segundos. Não foi coincidência. São olhos claros, mas não consigo decifrar seu sentimento. Senti-me oprimido, justamente por vê-lo como irmão. Paridos na angústia de um sonho de partir: ele do estado de insurgência e eu da realidade perpétua.