O poema do ano

Reirazinho
2 min readJan 1, 2024

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No sepulcro guardo histórias de pessoas.
Conheci dezenas delas mergulhadas em parênteses,
mas jamais avistei nos seus semblantes a queda,
elas passaram nos meus trilhos enferrujados,
notaram em meus negros olhos algo de bonito,
fizeram do meu coração um aconchego nostálgico,
amigos, amores, rivalidades; sabedoria amiúde,
versei na poética do desencontro íntimo,
caí na decrépita ilusão do apego,
disse ‘’até mais’’ e nunca mais disse nada.
Dei graças aos céus mesmo sentido tristeza.

O ano novamente passou, e eu sozinho permaneço,
os olhos viajam com as nuvens lentas,
passo as reviravoltas desta minha vida rápida,
digo no reflexo do meu rosto belo: ‘’por que viver?’’,
as respostas caem na rispidez da chuva,
entendo cair como a marca da resposta;
ciclos caem e novos sobem,
de tempos em tempos a colheita vem,
rasga as memórias que em vão guardei,
o ceifador de pessoas odeia gente como eu:
pessoa que ama plantar o que nada quer colher!
Tem gente sensível que não nasceu pro mundo,
eu não nasci, mas me obrigo a germinar,
digo isso ao meu futuro eu-possível,
um eu que irá sorrir por este passado ruim.

Novo começo para uma alma sem acalento,
o primeiro poema do ano vomita de mim,
eu não gostaria de estar agora escrevendo
algo que não se explica me escraviza pra sair,
chamado da carnificina da vida,
a que abate nossas esperanças sem tréguas,
nós rezamos por um Deus de silêncio,
e que nada acontece no deslanchar do mundo.

Desejo a todos força e misericórdia de si mesmo,
um feliz ano novo e novos recomeços!

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Reirazinho
Reirazinho

Written by Reirazinho

Sou feito de palavras não ditas e de melancólicas emoções. Escrevo o meu mundo com poesias e prosas.

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