Suposição

Reirazinho
Apr 14, 2024
art: Self-Portrait (ca. 1647), by Salvator Rosa (1615–1673)

Supus num insalubre dia que a verdade comigo
habitava no inverno. Estive caído na sombra
do outono, esperando as mentiras ruírem.
Quando o outono chegou, dei-me de costas
à fumaça fria da nuvem ilusória.
Sou o mais cético do quarteirão,
quando julgo olhares, crio cenários:
vivo imaginação, não suponho concretude,
nem sofro, nem me abato, porque
todos me odeiam, amam ou me atacarão.
Mas quem dera se eu valesse de algo…

Um dia quis sair do mundo sozinho.
Não ser memória de um nome e um corpo,
ser um grão de areia, uma gota de orvalho,
um câncer que cessa, um espelho sem gente…
Dei-me rente à realidade monótona:
um ser de cérebro paranoico, frágil, poeta,
que nada cessa a não ser versos gelados,
como reflete a solidão que nada o completa.

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Reirazinho

Sou feito de palavras não ditas e de melancólicas emoções. Contemplo o mundo escrevendo poesias, prosas, contos, ensaios e crônicas.